Células de pele especializadas e sistema nervoso complexo: entenda o processo de camuflagem dos polvos
08/05/2024
(Foto: Reprodução) Capacidade de se disfarçar no ambiente é considerada uma das mais avançadas do reino animal. Diretor do Aquário de Ubatuba traz informações sobre grupo de invertebrados. Vídeo mostra polvo se camuflando nas profundezas do mar
Os polvos são animais invertebrados do grupo dos moluscos, conhecidos por seus oito braços que se originam da cabeça, corpo sem concha e um sistema nervoso altamente desenvolvido.
Normalmente, se deslocam ao se arrastar pelo fundo do mar, mas também têm a capacidade de nadar rapidamente utilizando jatos de água.
Outras habilidades impressionantes do polvo são a camuflagem e a capacidade de liberar "tinta preta" na água para confundir possíveis predadores. O oceanógrafo e diretor do Aquário de Ubatuba, Hugo Gallo, explica como funciona o mecanismo de camuflagem do animal.
“O processo de camuflagem nos polvos envolve a ação coordenada de células especializadas na pele, chamadas cromatóforos, iridóforos e leucóforos, controladas por um sistema nervoso altamente desenvolvido, que contém pigmentos coloridos e podem ajustar o brilho e a tonalidade da pele do polvo", elucida Hugo.
"A contração e expansão dos músculos ativam a quantidade e o tipo de pigmento para alterar a cor da pele do polvo, adaptando sua camuflagem em resposta a estímulos ambientais, como a incidência de luz, tipo de substrato e presença de outros animais", completa ele.
Embora todas as espécies de polvo possuam a capacidade da camuflagem, a eficácia dessa habilidade pode variar entre as espécies.
tanguylois/iNaturalist
Polvos são predadores carnívoros que se alimentam exclusivamente de outros animais, como pequenos moluscos, camarões, lagostas, caranguejos e peixes. Eles dependem de uma visão aguçada e do tato para identificar suas presas, usando as ventosas dos braços para capturá-las.
“A camuflagem dos polvos desempenha um papel crucial em seu comportamento predatório, influenciando a eficácia na caça e na captura de presas, permitindo aproximação furtiva, ataques surpresa, imitação de presas e disfarce durante a espera”, explica Hugo.
O oceanógrafo conta que a camuflagem é uma característica de todos os moluscos da classe Cephalopoda, que inclui polvos, lulas e sépias. E embora todas as espécies de polvo possuam a capacidade da camuflagem, a eficácia dessa habilidade pode variar entre as espécies.
O polvo médio tem cerca de 500 milhões de neurônios ou células cerebrais
sandrinelecomte13/iNaturalist
Um fato curioso é que a camuflagem dos polvos é uma das mais avançadas do reino animal, principalmente por poder alterar rapidamente sua cor, textura e padrão de pele, sendo muito adaptável a uma variedade de habitats.
Reprodução
Os polvos apresentam um ciclo de vida curto e crescimento rápido. Em média, vivem entre um e três anos, e possuem sexos separados. Por meio de um tentáculo modificado, o macho transfere o espermatozoides para as fêmeas, durante processos que variam muito entre as espécies.
Após a fecundação, os ovos se formam e são incubados entre dois e dez meses, a depender da espécie. As fêmeas os protegem até que eles eclodam, deixando até mesmo de se alimentar durante o período. O mecanismo de camuflagem impacta diretamente o processo de reprodução dos polvos.
“Os polvos utilizam a camuflagem como critério para selecionar parceiros reprodutivos, pois polvos que possuem camuflagem mais eficaz podem ser mais atraentes, pois demonstram habilidades superiores de sobrevivência e adaptação”, explica Hugo Gallo.
A capacidade do polvo de perceber as mudanças no ambiente desempenha um papel importante em suas escolhas de camuflagem
timhe/iNaturalist
Habitat
Animais solitários, os polvos são encontrados em todos os oceanos do mundo, embora sejam vistos em maior quantidade em águas tropicais quentes. A maioria habita águas escuras e profundas. Algumas espécies vivem próximas da superfície da água e são chamadas de pelágicas.
“As mudanças ambientais, como poluição e aquecimento global, podem alterar a visibilidade e transparência da água do mar, mudar a composição e coloração do ambiente e impactar na disponibilidade de presas", ressalta o diretor do aquário de Ubatuba.
"Esses efeitos destacam a importância de abordar as questões ambientais globais para proteger não apenas os polvos, mas também todo o ecossistema marinho", finaliza.
O polvo-mímico recebe o nome devido à sua habilidade extraordinária de imitar outros animais marinhos
minivet/iNaturalist
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